Quando visitamos a obra de
Sófocles, o Édipo, um dos aspectos fundamentais é a manifestação do coro que
exige a proteção das leis. Ora, isso porque são as leis a primeira coisa que se
pisoteia quando se quer destruir a democracia, quando se quer violar o Estado
de Direito.
Quando somos lenientes com a
intemperança, com a insensatez, essas engendram o despotismo, que tem sempre
manifestas, intensas e dolorosas consequências para todo o povo.
Como diz Marcos Aguinis, autor
de Pobre Patria Mia!, vivemos um momento em que é necessário invocar a memória
de “Gaetano Filangieri (1752-1788), filósofo que demonstrou há três séculos que
para fundar uma democracia não bastam apenas leis:” é necessário que as regras
do jogo sejam incorporadas ao espirito do povo, convertendo-se numa amplamente
difundida e sólida religião cívica. No Brasil falta esta incorporação, esta
compreensão de que a democracia liberal representativa pode ser um sistema
ruim, mas como diz Churchill, não se conhece nenhuma melhor do que ela.
O Estado tem o dever de educar
sua população para que se saiba defender os direitos fundamentais de todos. A
ditadura militar de 1964 a 1985 foi um desastre quanto à educação e à formação
de um civismo básico que desse consistência à defesa da Democracia. Nosso povo
não aprendeu a valorizar as instituições e o sistema democrático. Não fomos ensinados
a sair e resistir à condição de servos.
Estamos vivendo um período
muito triste de retrocesso político e de esgarçamento das instituições. Desde
2015 as forças políticas despidas de seu compromisso com a democracia têm feito
um balé de perigosos conciliábulos e manobras que levam ao descrédito a
arquitetura construída em 1988. A eleição de 2018 foi realizada sob o signo de
uma campanha de desmoralização do sistema político, movida por uma força tarefa
do Ministério Público e de um juiz que apenas tinham por norte sua autopromoção
e a destruição do sistema vigente. Não vislumbravam sua reforma, nem sua
emenda, mas sua destruição, com a mesquinha intenção de representarem o papel
de salvadores da pátria.
Assim, a divisão política
patrocinada pelo PT durante os seus 13 anos de governo, em que a política foi
dividida entre nós e eles, em que a política deixou de ser um jogo entre
adversários, mas uma guerra entre inimigos, trouxe ao proscênio um sujeito
absolutamente desqualificado, cujo discurso virulento é uma violação do Estado
Democrático de Direito, apenas por ser proferido.
O capitão reformado é cria de
uma situação de coisas criada pelo PT e por sua ganância de poder e
aparelhamento do Estado. A insistência de Lula de ser o candidato do partido
foi o combustível que permitiu o impensável chegar ao segundo turno do certame
eleitoral, para depois, incorporando o ódio e o desalento, eleger-se Presidente
da República.
Mas Jair nunca foi um
democrata, nunca foi um político que respeitasse as instituições e o jogo
democrático. É antes um tirano. Como um tirano adota todo o tempo medidas
irritantes, mente de maneira desavergonhada e compulsiva, diz e desdiz sem pejo
e ameaça todo o tempo medidas de força, praticando-as de forma surda,
escamoteada.
É nos governos dos tiranos que
abundam castigos injustos (veja-se o fiscal do Ibama que tentou multar um
deputado que desrespeitava a lei), destituições (Mandetta), desqualificações,
perseguições, desterros (Jean Wyllys) e homicídios (alguém esqueceu Adriano da
Nóbrega e Marielle Franco). O tirano é um sujeito violento, que ignora a
piedade e o perdão, que considera sinais de debilidade em seu machismo atávico.
Não se põe no lugar do outro, a quem ignora e dirige desprezo quando não lhe
serve ao projeto de poder.
O tirano encara que tudo
deveria pertencer-lhe e por isso tenta de todas as maneiras apropriar-se dos
bens e dos poderes alheios. Mente sem pudor e insiste que governa para todos os
cidadãos para encobrir seus desmandos. Falta-lhe a capacidade de perceber a
realidade e no interior de seu claustro impermeável considera a realidade
diferente do que realmente ela é, como podemos bem perceber com todo o descaso,
toda a insensatez com a condução da Pandemia de COVID-19.
Temos de resistir à tirania
que se instala no Brasil, compreendendo a natureza do adversário, e para que
não percamos o ânimo temos de lembrar com Plutarco, um dos famosos sábios da
Grécia chamado Bias de Priene, do século VI a.C., que interrogado sobre os
animeis selvagens, respondeu: “Dos animais selvagens, o mais feroz é o tirano.
”
Resistamos!