sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Repete-se 1989?






Muito se tem falado da possibilidade de Jair Bolsonaro ser candidato a presidente e de chegar ao segundo turno das eleições presidenciais de 2018 no Brasil! Seria uma repetição de 1989?
Em 1989 estávamos sob o governo de um vice-presidente do PMDB, que governava sem ter sido eleito diretamente e não tendo assumido o presidente eleito pelo colégio eleitoral e cabeça da chapa do acordo das elites políticas para permitir a transição do regime militar para a democracia em 1985.
Collor de Mello o caçador de Marajás, foi um produto da mídia, vendido como salvador da pátria, principalmente pelos grandes meios de comunicação, para nos salvar do “sapo barbudo”, candidato pelo PT, criação do mago Golbery do Couto e Silva.
Hoje, a mídia tem dado lastro ao deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) que em recente pesquisa do DataFolha cresceu e aparece no segundo lugar da corrida presidencial em 2018, empatado tecnicamente com a ex-senadora Marina Silva (Rede).
Como em 1989, vivemos uma crise econômica portentosa, que se arrasta, vivemos sob um governo de legitimidade duvidosa, e novamente estamos ameaçados pelo “sapo barbudo”, criação demiúrgica da ditadura militar.
Ocorre que o desalento político que vivemos é fruto da repetição histórica dos golpes militares e de suas funestas consequências. O primeiro, a deposição do Gabinete do Visconde de Ouro Preto, o último do Império, resultou na atrapalhada e pantagruélica proclamação da República.
Essa viveu de sobressaltos, em 1891 com o fechamento do congresso pelo Generalíssimo, a posse do Vice-Presidente em exercício até o final do mandato, a crise de 1922, o golpe militar apropriado pelas oligarquias dissidentes em 1930, a revolta de 1932, a constituição falhada de 1934, o golpe militar-oligárquico amparado por Góes Monteiro de 1937 e novamente ele em 1945, o golpe parlamentar de 1961, o militar de 1964, outro parlamentar em 1985 e um novo em 2016.
Bolsonaro não poderia e não deveria ser levado a sério, com seu discurso vetusto, incoerente, de ódio e que é o pior do reacionarismo militar na história do país. Mas, ganha mídia, amparado na ignorância histórica e na falta de convicção democrática do povo, alimentada justamente pelos sequazes do “sapo barbudo”.
Na recente pesquisa divulgada na Folha de domingo (30/4) o deputado Bolsonaro, que tem posições reacionárias e de extrema direita, subiu de 9% para 15% empatado com Marina.
Já é o segundo nome mais lembrado de forma espontânea, com 7%. É menos que os 16% de Lula da Silva, mas acima dos 1% de todos os outros. A quem interessa fixar na memória do eleitor o nome do militar político?
Estamos a caminho de ficar entre escolher Lula da Silva ou Bolsonaro? Improvável, mas há que se alertar para o que as pesquisas trazem, de que há uma campanha para fixar um nome como antípoda do petista, permitindo daí surgir um salvador da pátria! Dória?
Lula da Silva, a exemplo de outros líderes carismáticos como Ademar de Barros, Paulo Maluf, Ronald Reagan e Donald Trump, se tornou um candidato que resiste a denúncias que se revelariam fatais para políticos normais.
Mas é tempo de a grande mídia assumir sua responsabilidade de limitar o espaço das bizarrices da política brasileira, de permitir discutir-se a herança maldita de acreditar que os militares sabem governar e amam a pátria, e de acabar com a fantasia sebastianista que assola nossa cultura política.
Vamos ficar alertas para que o discurso de ódio e de divisão dos 13 anos de PT não se traduzam mais uma vez na escolha entre o ruim e o pior. Não precisamos de salvadores da pátria, precisamos de políticos que respeitem a lei, que dignifiquem o Estado de Direito e que tornem o Estado não um peso, mas um elemento de auxílio à formação de uma grande sociedade.

*- Texto originalmente publicado no jornal Diário dos Campos, na coluna: pensar sem medo.

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