segunda-feira, 25 de junho de 2018

Dia de Índio.





Em abril comemoramos uma das datas nacionais que têm adquirido relevância e causado discussões acirradas nos últimos anos. Lembro-me bem, Baby Consuelo cantava, na década de 80, que “todo dia era dia de índio”!
Desde então tem-se produzido no imaginário popular, por meio das elites progressistas, a ideia de que o Brasil era a terra dos índios e que os Portugueses, muito malvados, atravessaram o oceano com sua ambição desmedida e sua avareza e despojaram aquele povo que vivia nestas terras em harmonia com a natureza, numa florescente cultura à margem do mercantilismo.
Convencemo-nos de que haviam desenvolvido uma sociedade altamente estruturada no igualitarismo, sem doenças, com muito tempo de lazer, e que haviam encontrado uma forma particular de progresso tecnológico, que não necessitaria da ajuda do ocidente se deixados em paz!
Podemos concordar com isso, sorrir, sermos agradáveis, e fingir que não sabemos nada de história, antropologia, sociedade, ou seja, fazermo-nos de simpáticos ignorantes para que não desencadeemos conflitos em jantares e reuniões inteligentes.
Ocorre que não é absolutamente a verdade.
Os portugueses chegaram ao Brasil no último ano do século XV apenas para afirmar os seus direitos sobre vasta área do continente americano, descoberto por Colombo sob a bandeira espanhola, e que resultou na Bula “inter coetera” que foi seguida pelo Tratado de Tordesilhas. Colombo era italiano, havia sido formado na Escola de Sagres em Portugal e acabou vendendo os segredos lusitanos aos espanhóis Fernando e Izabel.
A expansão marítima do século XV desencadeada pelos valorosos lusitanos era inevitável, como consequência do aumento populacional da Europa, do desenvolvimento das ciências náuticas, do mercantilismo e do acúmulo de conhecimento tecnológico.
A ocupação do território brasileiro foi levada a efeito por um punhado de portugueses corajosos e imbuídos de um sentimento evangelizador, legítimo. Quando aqui chegaram, encontraram milhares de nações indígenas distintas, vivendo na idade da pedra lascada, de comportamento seminômade, com dois grandes troncos, o Tupi e o Tapuia.
Todos estavam em guerra com todos, porque como exploravam a natureza com pouca tecnologia, o esgotamento do solo e da caça levavam-nos a invadir o território dos vizinhos, travarem guerras e a ocuparem para poder sobreviver. Sua capacidade de gerar excedentes econômicos era muito baixo, a pobreza, a morte e a doença eram constantes, não chegaram a criar uma forma de escrita que pudesse preservar sua história.
Os sabidos intelectuais os tomam como modelo para soluções hodiernas. O problema é que ninguém em sã consciência e sem dogmatismos proporia que os 7 bilhões de humanos do século XXI voltassem a viver numa sociedade caçadora-coletora que sucumbiu a uma civilização muito mais atrasada que a nossa no século XV.
A influência da cultura indígena, para o bem e para o mal, é imensa na formação da sociedade, do pensamento, do imaginário, da concepção do espaço, na nação brasileira. Nossa língua influenciada, e muito, pela língua geral, alterou o arcabouço mental de construção do português aqui falado.
Alguns intelectuais de esquerda querem nos fazer sentir culpados, e preservar índios em grandes antropológicos (sim, zoológicos ou reservas naturais para homens primitivos) e acreditam de verdade que preservam cultura e sociedade. Mas essas, não sobrevivem sem assistência médica, sem recursos da cultura dominante, buscam tecnologia, imprimem bloqueios e disparam conflitos, armados de flechas e tacapes.
O Brasil tem 517 anos desde sua descoberta, tem quase 200 anos de independência e ainda não conseguiu olhar para si mesmo. Somos todos meio índios, independentemente da cor dos olhos e da cor da pele.

*- Texto originalmente publicado no jornal Diário dos Campos, na coluna: pensar sem medo.



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