Em abril comemoramos uma das datas
nacionais que têm adquirido relevância e causado discussões acirradas nos últimos anos.
Lembro-me bem, Baby Consuelo cantava, na década de 80, que “todo dia era dia de
índio”!
Desde então tem-se produzido no imaginário
popular, por meio das elites progressistas, a ideia de que o Brasil era a terra
dos índios e que os Portugueses, muito malvados, atravessaram o oceano com sua
ambição desmedida e sua avareza e despojaram aquele povo que vivia nestas
terras em harmonia com a natureza, numa florescente cultura à margem do
mercantilismo.
Convencemo-nos de que haviam
desenvolvido uma sociedade altamente estruturada no igualitarismo, sem doenças,
com muito tempo de lazer, e que haviam encontrado uma forma particular de
progresso tecnológico, que não necessitaria da ajuda do ocidente se deixados
em paz!
Podemos concordar com isso, sorrir,
sermos agradáveis, e fingir que não sabemos nada de história, antropologia,
sociedade, ou seja, fazermo-nos de simpáticos ignorantes para que não desencadeemos conflitos em jantares e reuniões inteligentes.
Ocorre que não é absolutamente a
verdade.
Os portugueses chegaram ao Brasil no
último ano do século XV apenas para afirmar os seus direitos sobre vasta área
do continente americano, descoberto por Colombo sob a bandeira espanhola, e que
resultou na Bula “inter coetera” que
foi seguida pelo Tratado de Tordesilhas. Colombo era italiano, havia sido
formado na Escola de Sagres em Portugal e acabou vendendo os segredos lusitanos
aos espanhóis Fernando e Izabel.
A expansão marítima do século XV
desencadeada pelos valorosos lusitanos era inevitável, como consequência do
aumento populacional da Europa, do desenvolvimento das ciências náuticas, do
mercantilismo e do acúmulo de conhecimento tecnológico.
A ocupação do território brasileiro
foi levada a efeito por um punhado de portugueses corajosos e imbuídos de um
sentimento evangelizador, legítimo. Quando aqui chegaram, encontraram milhares
de nações indígenas distintas, vivendo na idade da pedra lascada, de
comportamento seminômade, com dois grandes troncos, o Tupi e o Tapuia.
Todos estavam em guerra com todos,
porque como exploravam a natureza com pouca tecnologia, o esgotamento do solo e
da caça levavam-nos a invadir o território dos vizinhos, travarem guerras e a ocuparem
para poder sobreviver. Sua capacidade de gerar excedentes econômicos era muito
baixo, a pobreza, a morte e a doença eram constantes, não chegaram a criar uma
forma de escrita que pudesse preservar sua história.
Os sabidos intelectuais os tomam como
modelo para soluções hodiernas. O problema é que ninguém em sã consciência e
sem dogmatismos proporia que os 7 bilhões de humanos do século XXI voltassem a
viver numa sociedade caçadora-coletora que sucumbiu a uma civilização muito
mais atrasada que a nossa no século XV.
A influência da cultura indígena, para
o bem e para o mal, é imensa na formação da sociedade, do pensamento, do
imaginário, da concepção do espaço, na nação brasileira. Nossa língua
influenciada, e muito, pela língua geral, alterou o arcabouço mental de
construção do português aqui falado.
Alguns intelectuais de esquerda querem
nos fazer sentir culpados, e preservar índios em grandes antropológicos (sim,
zoológicos ou reservas naturais para homens primitivos) e acreditam de verdade
que preservam cultura e sociedade. Mas essas, não sobrevivem sem assistência
médica, sem recursos da cultura dominante, buscam tecnologia, imprimem bloqueios
e disparam conflitos, armados de flechas e tacapes.
O Brasil tem 517 anos desde sua
descoberta, tem quase 200 anos de independência e ainda não conseguiu olhar
para si mesmo. Somos todos meio índios, independentemente da cor dos olhos e da
cor da pele.
*- Texto originalmente publicado no jornal Diário dos Campos, na coluna: pensar sem medo.
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