segunda-feira, 6 de junho de 2016

Estupro e cultura







Neste momento de histeria coletiva pelo “estupro” de uma menor de 16 anos no Rio, supostamente por 33 homens, discute-se a relação, de forma apaixonada e inadequada, de estupro e cultura no Brasil.
Num primeiro momento a menina, porque se trata de uma menina, uma adolescente de 16 anos, no dia 26 de maio, uma quarta-feira, disse que acordou com “33 caras em cima de mim”. A descrição do fato está mais para uma hipérbole do que para a constatação de um fato real.
A imprensa, mais que imediatamente, passou a dar uma divulgação superlativa ao fato, que ganhou notoriedade nos mais diversos grupos de lutadores e defensores das diferenças e disputas de gênero, e por fim, um delegado e o Presidente Interino da República acabaram por ser envolvidos num fato, que em que pese de grave e grande importância, acabou ganhando notoriedade pela histeria coletiva que despertou.
O primeiro problema da polícia e da sociedade é encontrar 33 estupradores, mesmo tendo sido constatada a ausência de lesões compatíveis com a violência sexual pretensamente perpetrada pelo hospital onde foi atendida a vítima. O segundo problema é que ninguém tem a coragem de dizer publicamente que há na história vários elementos com inconsistência e que houve precipitação na forma de divulgação e de enfoque do fato.
Como no caso da Escola Base que explodiu em 28 de março de 1994 e determinou mais de 18 anos depois na condenação da Globo em uma indenização por danos morais de R$ 1,35 milhão, a imprensa retira o fato de seu contexto, preenche-o de um conteúdo moralista, e muitas vezes hipócrita, e os plantonistas da guerra de gêneros fazem o resto.
Como homem, ouvi nos últimos dias muitas ofensas, li estereótipos incoerentes e ouvi opiniões absurdas, como a de que o estuprador comete o ato imaginando-se ou desejando ser a vítima, aliás, opinião esta esposada na Folha por articulista que se intitula psicanalista.
A violência contra a mulher e contra o transgênero, o homem, a criança ou o adolescente existe de fato na sociedade, mas não se trata de algo cultural ou natural. Nossa sociedade estimula com o marketing e outras formas subliminares o desejo sexual, mas tal, não pressupõe necessariamente a violência sexual que nasce da pobreza, da intolerância, da marginalidade e mais que tudo, de uma forma de compreensão da realidade que ou nos garante a impunidade ou nos ameaça com a severidade excessiva.
Não é com a glamourização de uma suposta vítima de estupro, que está mais para uma vítima de suas próprias escolhas e pela imbecilidade de um namorado que permite gravar sua namora pelo melhor amigo e ainda divulgar em rede social, o que de fato configuraria uma violência à intimidade e à imagem, que se fará a apologia do direito à liberdade e integridade sexual.
Gastaram-se rios de tinta nos últimos dias para defender que houve estupro, que há um bando de marginais sexuais andando livremente pelo Rio de Janeiro, quando na realidade o que temos é um bando de ignorantes que não sabem medir as consequências de seus atos, expondo sua patetice nas páginas do Facebook e outras tentações que nos fazem olvidar os princípios mais elementares do convívio social.
Houve estupro? Sinceramente não saberia afirmar e, correndo o risco de desconhecendo todos os fatos errar, acredito que não. A delegada designada não tem a isenção necessária para a apuração dos fatos e a exploração política do ocorrido velam a verdade. Tanto assim, que teve de admitir a soltura do namorado, tido como suspeito de participar do crime, porque insustentável a prisão temporária.
Não, nós homens não somos estupradores em potencial, nossa cultura não nos torna prováveis estupradores, e o fato de olharmos e desejarmos uma mulher não nos transforma em transgressores.

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