domingo, 12 de março de 2017

Donald e Mickey governam americanos




Sebastián Piñera, ex-presidente do Chile, teve uma grande sacada no dia 31 de janeiro. Não é que os Estados Unidos estão sendo governados por Donald e Mickey?
Escreveu o ex-dirigente no twiter: “Donald Trump escolheu Mickey Pence como vice-presidente. Ou seja, os EUA são governados por Donald e Mickey. Será que Walt Disney sonhou com isso?”.
Independente da constatação preclara, a atuação de Donald Tramp nestas primeiras semanas faz com que a sociedade política se pergunte se ele vai ou não vai descer do palanque tão cedo.
O populista e demagogo presidente vem tomando medidas para pôr em prática todas as suas promessas de campanha, mesmo as mais delirantes e radicais. Assim, é importante então saber se, e em que escala, ele será contido pelo aparato institucional norte-americano.
Ocorre que ele é um desafio ao modelo de democracia representativa de voto universal e facultativo. E não faz qualquer segredo do seu desprezo quanto ao modelo, utilizando-se de forma oblíqua do sistema para fraudá-lo.
Obama que governava com minoria em ambas as casas do Congresso, atuou muito por meio de decretos. Assim, Trump tem tido pouco trabalho para desmontar o que restou da administração democrata e para cumprir suas promessas.
Imediatamente editou normas contra os imigrantes. Diante do caos instalado com o decreto que limitou a entrada de estrangeiros, juízes não tardaram em conceder liminares suspendendo alguns dos efeitos da medida.
Ora, o que Trump fez foi cumprir com seus compromissos eleitorais. Sabidamente condenamos os políticos que prometem durante a campanha e simplesmente esquecem tudo ao assumir o poder. Donald esbarrara na lei, pode até recuar parcialmente, mas ele tem maioria em ambas as casas e seu humor é muito parecido com o tio de Huguinho, Luizinho e Zezinho.
Há que perceber que há uma nova forma de fazer política no espectro à extrema direita e que suas atitudes já bastam para ser vendidas como uma vitória a seus eleitores.
Ele pode dizer a seus simpatizantes que está trabalhando para tornar as fronteiras seguras, para recuperar os empregos dos americanos, restituir-lhes a estima. Para o presidente a mídia, a elite política, os eleitores de Hilary e aqueles que se abstiveram não estão entre as prioridades e preocupações.
Tal é, em última análise, o resultado das democracias com voto universal onde a maior minoria é sempre capaz de impor, quando organizada e bem explorada, seu modelo de mundo, fundamentado em seus preconceitos e ideologias.
Trump como novo presidente está tentando provar que é um homem de palavra e que cumpre suas promessas, o que rompe com o modelo da classe política e faz com que sua penetração no imaginário do americano médio se faça ainda mais fortemente.
Se suas atitudes tresloucadas não redundarem em inflação, perda de poder aquisitivo, perda de influência no mundo e dificuldades econômicas pelo seu amadorismo voluntarista, há um grande risco de vermos esgotado o modelo político de Alexander Hamilton e Thomas Jefferson
Se agisse de outra forma, seria classificado como um político igual aos outros e rapidamente perderia sua base de apoio. Ao sair logo de cara atirando para todos os lados contribui para a reputação de jogador duro, que poderá ajudá-lo em futuras negociações.
Num mundo em que a mídia eletrônica é todo poderosa para estabelecer o que é a verdade, até que ponto a doutrina dos fatos alternativos não veio para perpetuar uma nova etapa da política e da história do Ocidente?



*- Texto originalmente publicado no jornal Diário dos Campos, na coluna: pensar sem medo.





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