Quando pensamos que o Brasil
pode ter chegado ao fundo e que então só podemos emergir, a realidade com
crueldade inaudita, nos desafia a enxergar que o fundo está um pouco mais à
diante.
Houve tempo em que se escolhia um
ministro do Supremo Tribunal Federal de acordo com o comando constitucional que
determina:
“Art. 101. O Supremo Tribunal
Federal compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de
trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber
jurídico e reputação ilibada.”
Mas, como vimos no episódio da
indicação do Ministro da Justiça Alexandre de Moraes, muitas condições que nada
têm que ver com reputação ilibada e notável saber jurídico são hoje
determinantes, não só para a indicação, mas para a aprovação do candidato pelo
Senado da República.
Lula da Silva esperou o apagar
das luzes do seu governo para escolher Dias Toffoli ministro do STF. O advogado
indicado pelo ex-presidente não preenchia pelo menos uma das exigências da Constituição.
A do notável saber jurídico.
Não importava que tivesse sido
advogado de José Dirceu, do ex-presidente, do PT e que tivesse chegado aos mais
elevados cargos da advocacia da União não por concurso ou méritos, mas por favorecimentos
concedidos pelos amigos que estavam aparelhando o Estado.
Rosa Weber foi escolhida por
pressão de Tarso Genro, que praticamente impôs à ex-presidente Dilma o nome da
hoje ministra. Edson Fachin se notabilizou pela campanha em favor da eleição e
reeleição de Dilma, com o objetivo de ter seu nome por fim indicado e sufragado
para a vaga pelo Senado.
Agora o PT e seus aliados se
revoltam contra a escolha de Alexandre de Moraes para a vaga no STF, mas onde
estava esta esquerda tão consciente da violência à Constituição que é a escolha
de um político que não preenche todas as exigências constitucionais quando das
indicações de Dilma e Lula? Por que Alexandre de Moraes é menos digno da beca
ministerial que Dias Toffoli?
O lamentável é a mensagem que a
classe política e a elite do judiciário passam aos brasileiros. Uma mensagem de
que a lei de Gerson é o que vale, que ser amigo dos poderosos é o que se
precisa para chegar aos mais altos cargos, que as funções mais dignas da
república não passam de prebendas a serem distribuídas aos clientes.
Nem PT, nem PSDB, nem PMDB, nem
DEM ou quaisquer dos partidos políticos hoje com assento no Senado e na Câmara
podem se queixar da escolha, porque pactuaram com o que há de pior para um
povo, o exemplo, a indicação de que a Constituição é letra morta, de que
Ferdinand Lassalle tinha razão ao questionar a “força normativa” da carta.
Nós acreditamos sim na lisura
do sorteio para relator da Lava Jato! Acreditamos sim no notável saber jurídico
de Dias Toffoli e de Alexandre de Moraes. Somos todos boas velhinhas de
Taubaté. O problema é o exemplo que as instituições dão de que no mundo da
fantasia, o povo continuará a achar tudo perfeito, tudo como se o Estado
defendesse a Ordem Jurídica.
O problema de fato é que o
exemplo nos ensina que o sistema jurídico e político quer é levar vantagem em
tudo. Depois não sabemos porque há revoltas nos presídios, corrupção e por fim
uma convicção persistente de que a lei só vale para os desvalidos cidadãos
comuns!
*- Texto
originalmente publicado no jornal Diário dos Campos, na coluna: pensar sem medo.
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