Vivemos tempos paradoxais. Vivemos
tempos em que o liberalismo pugna e se justifica quando tenta suprimir
manifestações artísticas.
A arte é sempre a expressão de um
sentir. Ferreira Gullar um grande poeta e intelectual brasileiro, falecido em
2016, discutiu muito a questão da arte e em uma entrevista publicada em Artes e
Ideias por Marcelo Vinícius, onde respondendo a uma pergunta, bem poderia estar
se referindo à mostra Queermuseum, nos diz:
“(...)existe
uma tese da arte conceitual, da arte feita só por idéias. Isso não tem
cabimento. Para refletir, preciso ler filosofia, não vou me ocupar do estilo de
pintar do Cildo Meirelles para fazer isso. Ele é um excelente pintor, mas por
que ele não pinta em vez de fazer o que está fazendo? Coloca escrito na obra
"Urinóis – cocô artificial com planta natural". É para pensarmos
sobre isso? O que vamos pensar sobre cocôs e plantas artificiais? Isso é muito
pobre. Se ele fizesse os guaches que fazia antes, se comunicaria e transmitiria
coisas que as pessoas poderiam sentir por meio da arte. Estive agora em Paris e
fui ao Museu de Arte Moderna. Só vale pelo acervo de obras realizadas até a década
de 40. Depois disso, nada vale a pena. O museu está vazio, ninguém vai lá.
Tinha até uma exposição da Yoko Ono, que só faz besteira também, mas mesmo
assim estava vazio. Só está lá porque ficou famosa depois que casou (com o
ex-beatle John Lennon). É inacreditável ver os diretores do museu convidando
esse tipo de gente para expor. O resultado disso é que ninguém vai lá ver a
exposição. Já o Louvre recebe multidões de pessoas, assim como o Museu Picasso.”
Esta manifestação do grande poeta
terá defensores e detratores. A arte será sempre um campo de batalha. Defini-la,
limitá-la sempre um grande risco.
No entanto, não vejo na amostra que
o Santander de forma inteligente acolheu, nada que permita a um liberal honesto
consigo mesmo, batalhar para “censurar”.
Sim, a palavra correta para o movimento
que se fez de combate à amostra é “censura” e o comportamento das pessoas que
se dispuseram a vir a público contra ela é de discurso da intolerância.
Concordo de forma irretocável com o
pensamento de Ferreira Gullar sobre a arte, mas isso não me fará lutar,
vociferar, fazer campanhas para impedir que Cildo Meirelles ou qualquer outro
artista faça de sua produção aquilo que acredita ser a expressão de sua arte.
Se podemos expor em uma galeria a
imagem do Cristo como aquela que se apresentou na exposição de Porto Alegre é
porque somos uma nação Cristã, tolerante, culta e capaz de entender que a
expressão artística nada tem a ver com a expressão religiosa. As imagens “profanas”
não arranham, não comprometem minha fé. Antes, faz com que eu me questione
sobre a própria razão da sacralização das imagens, da sacralização daquilo que
não é essencial no amor de Deus.
É lamentável que o banco tenha,
pressionado por formas equivocadas de intolerância, deixado de expor as obras.
Se me perguntarem se pães ázimos em forma de hóstia, onde se encontra escrito “vagina”,
“língua” e que tais me ofendem, afirmo sem medo de errar que não. Se acredito
que é uma obra de arte. Obviamente não. Isto quer dizer que devo pugnar para
que não seja exposto e para que outros a considerem assim. Nunca!
Eu não sou medida do que é arte, e o
meu gosto é particular. Se alguém achar genial pães ázimos em que se escrevem obscenidades,
ótimo para ele e para o artista. Eu farei uma observação crítica e tentarei
compreender a necessidade daquele artista de profanar um símbolo da religião
Católica. Mas é apenas isso que ele fez.
O chimpanzé no colo da “virgem”
aureolado e com a galinha pintadinha e um crânio, com indústrias e usinas
nucleares ao fundo, é uma sacada genial. Diga-se de passagem, os primatas estão
muito ameaçados de extinção e são nossos irmãos muito próximos.
Então, gostaria apenas de deixar
aqui minha opinião sobre as tentativas que o MBL está fazendo de repudiar a
pecha de que é reacionário (não conservador) e que buscou censurar uma
expressão de arte. Não há que repudiar, mas assumir que a cada momento o MBL se
torna mais uma expressão radical de direita.
Hitler, Stalin, Mussolini também
lutaram de maneira decidida contra a arte degenerada. Quem tenta suprimir as
formas de pensamento e expressão que não se conformam com sua visão de mundo
não são liberais. São FASCISTAS!
Sejam de direita ou de esquerda,
suprimir o direito de expressão, em todas e em qualquer de suas formas é
violência. Como liberal convicto, como defensor das ideias e da liberdade, só
posso condenar a atitude de qualquer sujeito que se arrogue o direito de
suprimir uma forma de arte, concorde ou não com ela.
Lamento que o Santander tenha se
curvado às forças do obscurantismo! Lamento mais ainda viver nestes dias
tristes em que a liberdade é usada como escudo para a violência e a intolerância!
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