O surrealismo é um movimento artístico
surgido na França nos anos 20 do século passado, como reflexo da tormentosa
revolução tecnológica que afligiu a sociedade humana desde a década de 70 do
XIX e que culminou com a destruição industrial da cultura e da humanidade, no
prelúdio que foi a primeira guerra mundial de 1914.
Como dizia André Breton, um de seus
principais teóricos, o movimento objetivava “resolver as condições previamente
contraditórias entre sonho e realidade”.
O Brasil desde 1988 vem sonhando com
uma democracia estável, com a recuperação e a reconciliação com a memória
passada da ditadura militar. Período em que contraditoriamente mostrou ao mundo
que poderia crescer a índices vertiginosos, mas que ao mesmo tempo levou à
estagnação dos anos 80 e ao processo hiperinflacionário. A variação média dos preços
nos anos 80, herança do regime militar foi de absurdos 233,5%.
Assim, em meio a uma memória
falsificada e expurgada da realidade, a população lembra do que foi positivo ou
transformador durante o período militar, mas esquece, esforça-se por não trazer
à memória a violência, a falta de liberdade, a truculência policial, o desastre
econômico e o abandono da arte, da memória e da cultura, como elementos
constitutivos de uma nacionalidade sadia.
As contradições continuaram a se
acentuar com a abertura democrática, fundamentada num processo lento, gradual e
seguro, para aqueles que renunciavam ao poder e à violência política, deixando
como herança um sistema caótico, multiplicando partidos de aluguel e deformando
o sistema político. O projeto era permitir toda mudança possível para que tudo
permanecesse o mesmo.
Tais manobras levaram ao Governo FHC,
um momento de lucidez que fez o necessário para reformar economicamente o país
e livrá-lo do flagelo inflacionário. Houve uma sincera busca pela consolidação
do regime. No entanto, fruto dos conflitos internos e inerentes ao sistema, a
cultura política se fragmentou em dezenas de partidos inexpressivos, abúlicos e
de aluguel.
O único movimento que subsiste
envergonhado é a geleia amorfa chamada Centrão. Fisiológico e adesista, vai
dando alguma previsibilidade ao funcionamento do Legislativo. No entanto as
contradições se agravaram e a tentativa do PT de se apropriar dos sistemas de
aparelhamento do Estado, antes nas mãos do MDB, determinaram o surgimento de um
embate final, tendo como resultado o Mensalão e a Lava Jato.
Dos escombros do conflito
político-partidário pelo espólio do Estado e de sua reorganização em benefício
de um dos grupos em luta, surge um movimento surrealista na política
brasileira. Um deputado do baixo clero, 28 anos sem absolutamente nenhum brilho,
que é reacionário, saudosista do regime militar e adorador de torturadores,
além de ter passado por cinco partidos inexpressivos durante sua carreira
política, chega ao poder e no poder estremece as instituições e cria incêndios diários,
para depois atear sobre ele gasolina, para ver se incinera o Estado e a
sociedade brasileira.
É surrealista ver um presidente da República
se envolvendo em mesquinharias políticas, disputando o comando de uma legenda
inexpressiva, usando a Polícia Federal para investigar o presidente da legenda
que o elegeu. A deslealdade e o banditismo se instalam desde o centro mais
elevado de poder da República.
O colapso do sistema político
interessa àqueles que querem destruir as instituições, e a não ser pela Câmara
dos Deputados, com o conluio do STF, caminhamos para o abismo do Estado de
Exceção.
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