O Senado da República foi instituído
como órgão representativo da federação e como instância revisora das paixões
políticas que pudessem encontrar expressão na Câmara dos Deputados e
desestabilizar as instituições.
Deveria constituir-se na câmara revisora
que trouxesse equilíbrio, sobriedade e seriedade ao sistema político. Ocorre
que, ao contrário dos Estados Unidos onde apenas 2 senadores são eleitos para
cada um dos 50 estados, com mandatos alternados, o Brasil acabou tendo 3
senadores para cada unidade, com mandatos extremamente longos, determinando a
constituição de uma casta de políticos coronelistas, oligarcas e
patrimonialistas.
Outra importante deformação do sistema
bicameral no país é que o Nordeste com 9 Estados membros e o Norte com 7,
totalizando 16, têm 48 representantes em 81 possíveis. Ou seja, sem a anuência
das duas regiões mais pobres e dependentes do governo central nada se aprova ou
pode ser votado no país.
Tanto é assim, que desde a
Constituição de 1988, apenas 1 presidente do Senado foi de região distinta de
Nordeste/Norte. Foi o Senador Ramez Tebet do Mato Grosso do Sul entre
2001-2003.
Durante o período Lulo-petista o
Senado foi um feudo de Sarney e de Renan Calheiros que se revezaram na
presidência do Poder. Mas, para além de suas deformações do sistema político, o
Senado não vem cumprindo com suas funções, tornando-se apenas e tão somente um
balcão de negociatas das oligarquias nordestinas e nortistas, sem nenhum
serviço relevante prestado para a proteção das instituições e para o
engrandecimento e o enraizamento da democracia no país.
Exemplos de quanto o Senado não cumpre
com o seu papel são muitos, mas dois recentes são particularmente eloquentes
para demonstrar a total ineficiência e necessidade de extinção do órgão, na
medida em que, descumpre suas relevantes funções.
O primeiro fato relevante é a nomeação
de Dias Toffoli para o STF. Em 2009 Lula da Silva indicou para ministro o
Advogado Geral da União que tinha sido advogado do PT, das campanhas do
presidente e que não reunia, sabidamente, os requisitos exigidos pela
Constituição para ocupar uma vaga de ministro na Suprema Corte.
É tão vergonhosa a indicação, que Dias
Toffoli nunca se absteve de participar dos julgamentos em que seu
ex-representado ou seu chefe na Casa Civil eram réus, numa flagrante violação
do Código de Processo Penal. A atuação de Dias Toffoli durante todo o período é
de fragilização da Lava Jato e da capacidade investigativa do Ministério
Público, culminando ontem (16/7) com liminar para suspender, em âmbito nacional,
os processos de lavagem de dinheiro o que é do interesse de gregos e troianos.
O segundo fato relevante é quando o
ex-ministro da Integração Regional (2011-2013), Fernando Bezerra Coelho, líder
do governo Bolsonaro no Senado, garante que há maioria parlamentar para a
aprovação do deputado que sabe falar inglês (porque fez intercâmbio de 6
meses), espanhol e sabe fritar hamburguer, para ser embaixador em Washington.
É vergonhosa a subserviência e a
rendição do Senado ao poder imperial dos presidentes da república, e se não são
capazes de resistir às sandices, se não são capazes de fazer valer a
respeitabilidade das instituições republicanas e dos deveres de que são
investidos, não há porque despender tamanho esforço para manter um órgão
meramente homologatório da vontade estapafúrdia do presidente de plantão.
Se o Senado Federal aprovar a
designação do deputado do hambúrguer para a embaixada, então, vamos fazer uma
campanha honesta pelo seu fechamento. Para que Senado?
Texto originalmente publicado no jornal Diário dos Campos.