É surpreendente, porém, de forma alguma inesperado, que o presidente eleito em outubro do ano passado, passados apenas quatro meses de governo, já se ache em franco declínio, tanto em capacidade de governar quanto em popularidade.
No domingo, dia 12 de maio, o capitão reformado acabou declinando de maneira amoral o acordo que fez com o ex-juiz Sérgio Moro, para que este abandonasse uma meritória carreira de juiz federal e se associasse ao projeto político bolsonarista, tornando-se ministro da justiça de um governo completamente sem rumo, tendo como pagamento a promessa de ser indicado a uma vaga de ministro do STF quando esta surgisse.
Com suas interferências no preço do diesel, com seus decretos de liberação de armas, com seu silêncio quanto ao laranjal plantado no seu ministério do turismo, com os escândalos ligando seus filhos a milícias, o presidente vem afundando progressivamente na rejeição da população brasileira que minimamente se importa com o futuro do país.
Entre os desmandos do governo instalado no planalto está a escolha de dois ministros da Educação incapazes de compreenderem as necessidades da área. Não há projetos, não há programa, não há condução burocrática minimamente capaz de enfrentar os desafios da educação no país.
Perguntado sobre as manifestações que incendeiam o país, o presidente mostrou claramente como pensa e como reage à democracia:
“É natural, agora a maioria ali é militante. Se você perguntar a fórmula da água, não sabe, não sabe nada. São uns idiotas úteis, uns imbecis, que estão sendo usados como massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o núcleo de muitas universidades federais no Brasil.”
A incompreensão absoluta da realidade social, política e econômica pelo governante apenas acentua intensamente o divórcio entre a sociedade e a administração e demonstra cabalmente que as assertivas do capitão reformado de que não entende nada de economia, de governo, de política, são absolutamente verdadeiras o que o incompatibiliza com o exercício da maior magistratura da nação.
Interessante observar que se os estudantes e a sociedade que foram para as ruas reivindicar mais respeito pela educação e maior capacidade de gerenciamento de uma das mais importantes áreas de atuação do Estado são uns idiotas úteis e uns imbecis que servem de massa de manobra, o que seria uma boa descrição da massa de alucinados que acompanham e aplaudem a forma de governar do presidente e de seus filhos através das mídias sociais como twiter e WhatsApp?
Esses grupos também são minoritários e são utilizados como massa de manobra para silenciar os discursos que se opõe à forma autoritária e atrabiliária do atual governante. São também minoria espertalhona que compõem o núcleo da direita radical, absolutamente alheia aos valores da democracia liberal, da pluralidade política e do respeito ao dissenso político.
Estamos diante de um governo que começa a chafurdar em sua própria incompetência, que já se reflete dramaticamente na explosão do dólar, na queda da bolsa de valores, no aumento do desemprego e que já marca um retrocesso do PIB que no primeiro trimestre de 2019 recuou em relação ao ano anterior.
O problema que a democracia brasileira terá de enfrentar é que o atual governo está apenas no seu início e já enfrenta um declínio acentuado. Está no seu início, mas coleciona derrotas dignas de um governo em seu ocaso. Talvez seja hora de o sistema político se reinventar, antes que alternativas golpistas comecem a se articular.
Laércio Lopes de Araujo
Texto originalmente publicado no jornal Diário dos Campos!
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