quarta-feira, 25 de maio de 2016

Ministério da Cultura e o que mais!?







Nestes últimos dias fomos surpreendidos pela movimentação do dito “meio cultural” contra a extinção do Ministério da Cultura pelo Governo de Michel Temer.
Gostaria de começar por uma frase dita por Caetano Veloso: “"O MinC é uma conquista do Estado brasileiro, não é de nenhum governo! ” Caberia perguntar, de quê Estado? Estado conquista alguma coisa?
Em princípio pode parecer, e o querem fazer crer, que ao extinguir o Ministério da Cultura o governo de Michel Temer apoiado no PMDB, PSDB, PSD, DEM e Centrão, é um governo de direita, reacionário, contrário aos movimentos populares de cultura e de incentivo à área no país.
No entanto, não consigo entender porque a vanguarda da cultura no país quer que um ministério defina o que é cultura, o que são suas manifestações populares, que determine o que deve e o que não deve ser incentivado. Não consigo entender a importância de um ministério para fazer com que haja manifestação cultural, ou que, o que é mais grave, menos democrático e muito mais reacionário, determine o que é de fato manifestação que deve ser incentivada e o que não deve.
Nos governos Lula e Dilma tivemos a experiência dos piores ministros da cultura que o país já teve, com desperdício de dinheiro público, com estímulo a grandes artistas em detrimento de formas culturais mais populares, um desastre na produção cinematográfica e teatral.
Aí vemos artistas em tapetes vermelhos com a palavra golpe. Golpe contra suas sinecuras? Golpe contra uma forma estatista de fazer e definir cultura? Qual a legitimidade do Estado de definir política cultural, se o Estado é antes de tudo uma instituição para além de partidos, grupos, coletivos e corporações?
No Brasil tudo se resolve com uma comissão, uma secretaria ou um ministério. Ou seja, buscamos sempre instituir algo para mudar tudo, e mudar tanto que tudo permaneça como era dantes.
Não cabe ao Estado dizer ao cidadão o que ele pode comer e o que não pode, o que ele deve aprender e o que não pode, o que ele pode ler, ouvir ou dizer e o que não pode, assim também, não cabe ao Estado conferir legitimidade a qualquer tipo de manifestação cultural ou estimular uma forma em detrimento de outra. Tal comportamento faz lembrar a Revolução Cultural na China de Mao. Faz-nos lembrar de Soljenitsin.
O Estado não conquista nada, é apenas um avatar da sociedade, que muitas vezes a parasita, retirando dela recursos que seriam muito mais valiosos se empregados no fomento da liberdade de expressão e de forma especial, a liberdade de expressão artística sem a mediação dos estafetas de ministério.
As manifestações produzidas pela “intelligetsia” brasileira para a recriação do Ministério da Cultura reproduz de maneira fiel o constante contubérnio denunciado por ela mesma entre empresariado e Estado. Trata-se do mesmo mal costume de achar que o Estado deve dar conta e resolver tudo, é antes uma manifestação de autoritarismo mental.
Desta forma é de lamentar o recuo, porque se trata de inapelável recuo, a recriação do malfadado Ministério da Cultura, o que mostra o quanto de patrimonialismo e de dependência existe na “cultura” brasileira. Um episódio lamentável que mancha a biografia de nossos artistas.
Fazer o povo pagar para definir o que é cultura, é contribuir para a falta do leite e do pão na mesa do brasileiro mais pobre, que com certeza não há de desfilar em tapetes vermelhos defendendo direitos indefensáveis.