quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Nunca antes na história desse país!




Lula da Silva tinha indizível prazer de em seus discursos anunciar que “nunca antes na história desse país”. Com o anúncio de que o PIB brasileiro recuou 3,6% em 2016, lembrei de uma fala do filme Café Society de Woody Allen: Viva como se este fosse o último dia da sua vida e, um dia, você terá acertado!
Realmente o PT conseguiu marcar a história do país, não só pelo aparelhamento do Estado, pelo desmantelamento das instituições, pelo nepotismo e apadrinhamento, pelos maus exemplos de “Lei de Gerson”, mas também, pela incrível capacidade de produzir crises e descalabro econômico.
Após 13 anos de governo lulo-petista e de um ano marcado por turbulências políticas, mais uma queda de 3,6% no Produto Interno Bruto, de acordo com dados divulgados pelo IBGE nesta terça-feira (7 de março) mostram bem o que o gigantismo do Estado e a tentativa de substituir o esforço individual pelo paternalismo governamental são capazes de produzir.
Foi o segundo ano seguido de queda do indicador, que já havia recuado 3,8% em 2015. Sabemos que o início da recessão deu-se em 2014, e desde então o país acumulou queda de 9%, sabidamente a pior já registrada na história desde 1947.
Com o recuo de 0,9% no PIB do quarto trimestre, o país acumula 11 trimestres seguidos de recessão. A economia brasileira está de volta no mesmo nivel do terceiro trimestre de 2010.
Realmente o ex-presidente tinha razão, nunca antes na história deste país a recessão tinha se dado em todas as esferas da economia, nem tinha se prolongado ininterrupta por tanto tempo. Um reflexo claro da incompetência para a governação e do prejuízo causado pela corrupção sistêmica instalada no organismo do Estado.
O Estado não produz nada, retira os recursos para os serviços que presta da sociedade, atua como um Robin Hood, mas é importante que ele seja capaz de devolver algo de boa qualidade e que interesse ao pagador de impostos, sempre limitando sua avidez para que não mate a “galinha dos ovos de ouro”.
Estradas estão abandonadas, malha ferroviária estagnada, navegação de cabotagem inexistente, crise permanente no transporte aéreo, enfim, um legado invejável da esquerda.
Como é possível conviver com um investimento de apenas 16,4% do PIB? 2016 foi o pior ano da série histórica do IBGE, e ainda convivemos com os escândalos de roubos e desfalques no fundos de pensões, nas estatais, bem como o comprometimento de todo o sistema político.
Lula da Silva tem falado em defender o seu legado. Mas me pergunto, que legado? Mesmo aqueles que poderiam ser-lhe apontados como positivos, não mais se sustentam frente ao descalabro resultante do conjunto da obra.
De outra forma, os governos do PT foram tirados de Brasília por que a inflação chegou a dois dígitos, a recessão foi a maior da história, a corrupção tornou-se endêmica.
O que devemos repensar é a legitimidade da forma de governo no Brasil. Desde a proclamação da República, o exército apoderou-se do poder Moderador, mas quando o exerceu, deixou-nos como herança não uma esquerda aniquilada, mas ao contrário, ávida pelo poder e por rapinar o Estado, o que se pode constatar com as eleições de 1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014.
Tenho visto, infelizmente, algumas manifestações a favor de nova intervenção militar. Será que já esquecemos que Lula da Silva, Dilma Roussef, FHC, José Serra e toda a esquerda foi criada e cevada no Regime Militar?

Há uma forma de corrigir a história, para não sermos condenados a repeti-la. Maturidade quando estivermos sozinhos na urna eleitoral, não reelegendo, porque se há uma escória política corrupta, esta começa quando apertamos a tecla verde da urna!

*- Texto originalmente publicado no jornal Diário dos Campos, na coluna: pensar sem medo.

in pulverem reverteris




Estamos na quarta feira de cinzas, e então, ao pó estamos voltando. Ao pó do esquecimento, ao pó da exploração de impostos e contribuições, ao pó do anonimato e da escravização em benefício dos mandarins de plantão!
O carnaval é festa popular, legítima e transgressora que traz felicidade e olvido dos males por alguns dias. Caracteriza-se pela inversão de classes, gêneros, raças enfim, uma festa realmente democrática e popular.
Sua origem tem uma discussão intensa, mas acredita-se que no ano 590, o papa Gregório incorporou o Carnaval ao calendário das festas cristãs.
A Quaresma, período de quarenta dias de jejum e santificação entre a quarta-feira de cinzas e a páscoa, é o período de expiação de nossos abusos na festa que dá adeus à carne.
Assim, desde suas origens o carnaval era uma festa transgressora onde as pessoas comiam carne até vomitar, faziam sexo proibido, invertiam hierarquias e bebiam até cair.
A partir da Quarta-Feira de Cinzas, os fiéis iam à igreja para receber as cinzas na testa, enquanto ouviam o padre dizer em latim: “Memento homo, quia pulvis es, et in pulverem reverteris”  (Lembra-te homem, que tu és pó e ao pó voltarás).
No entanto este ano, tivemos a surpreendente discussão sobre a chegada do politicamente correto às marchinhas de Carnaval. As letras de algumas delas têm sido questionadas por serem consideradas machistas, homofóbicas e racistas.
Um exemplo é a música A faixa amarela, cuja letra diz que um homem vai presentear a sua amada e sugere que, se ela tiver alguma relação extraconjugal, vai sofrer castigos físicos e morais.
Ainda, músicas como Maria sapatão ou O teu cabelo não nega. No Rio de Janeiro, alguns blocos de Carnaval recusam-se a tocar marchinhas desse tipo, mas o povo não cansa de votar em Cunhas, Pézões, Cabrais e Garotinhos. Por que não cuidamos de ser politicamente corretos quando tratamos de votar?
É neste contexto que surge Preta Gil, filha de Gilberto Gil e uma das cabeças jovens mais lúcidas, que saiu em defesa de algumas marchinhas clássicas, como a "Cabeleira do Zezé" e "Maria Sapatão", depois de serem banidas em blocos do Rio e de São Paulo, acusadas de "preconceituosas" e "politicamente incorretas".
Disse a cantora:
"A gente precisa tomar muito cuidado porque as pessoas, hoje em dia, levam as coisas a 'ferro e a fogo'. Por exemplo: como é que eu não vou cantar 'Maria sapatão, sapatão..." ou "olha a cabeleira do Zezé'?! Eu duvido se tem alguém gay que se sentiu ofendido por essas músicas. Eu duvido, porque isso faz parte da nossa história, da nossa cultura, a gente não pode apagar a história".
Preta afirmou que essas músicas foram feitas em épocas onde tudo era tabu, e que as marchinhas serviam para introduzir, de maneira natural, certos assuntos, como a homossexualidade, a condição da mulher e a repressão da sexualidade, permitindo, no momento de diversão produzir aceitação.
Disse que se seguirmos o padrão, as pessoas terão de lhe chamar de 'Afrodescendente Gil', e não 'Preta Gil'.
"Gente, é óbvio que pode. O mundo evoluiu, a sociedade evoluiu, tem consciência do que é homofobia, do que é agressividade e a violência... a distinção de pessoas por causa da cor, raça, religião, sexo. Isso, sim, é grave. As músicas não trazem nenhum mal à sociedade. Cantei no meu bloco e vou continuar cantando", protestou.

Nesta quarta-feira de cinzas vamos refletir mais sobre a natureza do carnaval e perceber que este é o momento de transgredir, rir a velas soltas, permitir violações verbais e divertir-se. Na urna a coisa é séria, então nada de ser politicamente incorreto na hora de eleger governantes, senão depois, vamos fazer parte dos blocos do Sapo Barbudo ou do Nosferatu, ambos sedentos por impostos.

*- Texto originalmente publicado no jornal Diário dos Campos, na coluna: pensar sem medo.

Amostra Queermuseum




Vivemos tempos paradoxais. Vivemos tempos em que o liberalismo pugna e se justifica quando tenta suprimir manifestações artísticas.
A arte é sempre a expressão de um sentir. Ferreira Gullar um grande poeta e intelectual brasileiro, falecido em 2016, discutiu muito a questão da arte e em uma entrevista publicada em Artes e Ideias por Marcelo Vinícius, onde respondendo a uma pergunta, bem poderia estar se referindo à mostra Queermuseum, nos diz:

“(...)existe uma tese da arte conceitual, da arte feita só por idéias. Isso não tem cabimento. Para refletir, preciso ler filosofia, não vou me ocupar do estilo de pintar do Cildo Meirelles para fazer isso. Ele é um excelente pintor, mas por que ele não pinta em vez de fazer o que está fazendo? Coloca escrito na obra "Urinóis – cocô artificial com planta natural". É para pensarmos sobre isso? O que vamos pensar sobre cocôs e plantas artificiais? Isso é muito pobre. Se ele fizesse os guaches que fazia antes, se comunicaria e transmitiria coisas que as pessoas poderiam sentir por meio da arte. Estive agora em Paris e fui ao Museu de Arte Moderna. Só vale pelo acervo de obras realizadas até a dé­cada de 40. Depois disso, nada vale a pena. O museu está vazio, ninguém vai lá. Tinha até uma exposição da Yoko Ono, que só faz besteira também, mas mesmo assim estava vazio. Só está lá porque ficou famosa depois que casou (com o ex-beatle John Lennon). É inacreditável ver os diretores do museu convidando esse tipo de gente para expor. O resultado disso é que ninguém vai lá ver a exposição. Já o Louvre recebe multidões de pessoas, assim como o Museu Picasso.

Esta manifestação do grande poeta terá defensores e detratores. A arte será sempre um campo de batalha. Defini-la, limitá-la sempre um grande risco.
No entanto, não vejo na amostra que o Santander de forma inteligente acolheu, nada que permita a um liberal honesto consigo mesmo, batalhar para “censurar”.
Sim, a palavra correta para o movimento que se fez de combate à amostra é “censura” e o comportamento das pessoas que se dispuseram a vir a público contra ela é de discurso da intolerância.
Concordo de forma irretocável com o pensamento de Ferreira Gullar sobre a arte, mas isso não me fará lutar, vociferar, fazer campanhas para impedir que Cildo Meirelles ou qualquer outro artista faça de sua produção aquilo que acredita ser a expressão de sua arte.
Se podemos expor em uma galeria a imagem do Cristo como aquela que se apresentou na exposição de Porto Alegre é porque somos uma nação Cristã, tolerante, culta e capaz de entender que a expressão artística nada tem a ver com a expressão religiosa. As imagens “profanas” não arranham, não comprometem minha fé. Antes, faz com que eu me questione sobre a própria razão da sacralização das imagens, da sacralização daquilo que não é essencial no amor de Deus.
É lamentável que o banco tenha, pressionado por formas equivocadas de intolerância, deixado de expor as obras. Se me perguntarem se pães ázimos em forma de hóstia, onde se encontra escrito “vagina”, “língua” e que tais me ofendem, afirmo sem medo de errar que não. Se acredito que é uma obra de arte. Obviamente não. Isto quer dizer que devo pugnar para que não seja exposto e para que outros a considerem assim. Nunca!
Eu não sou medida do que é arte, e o meu gosto é particular. Se alguém achar genial pães ázimos em que se escrevem obscenidades, ótimo para ele e para o artista. Eu farei uma observação crítica e tentarei compreender a necessidade daquele artista de profanar um símbolo da religião Católica. Mas é apenas isso que ele fez.
O chimpanzé no colo da “virgem” aureolado e com a galinha pintadinha e um crânio, com indústrias e usinas nucleares ao fundo, é uma sacada genial. Diga-se de passagem, os primatas estão muito ameaçados de extinção e são nossos irmãos muito próximos.
Então, gostaria apenas de deixar aqui minha opinião sobre as tentativas que o MBL está fazendo de repudiar a pecha de que é reacionário (não conservador) e que buscou censurar uma expressão de arte. Não há que repudiar, mas assumir que a cada momento o MBL se torna mais uma expressão radical de direita.
Hitler, Stalin, Mussolini também lutaram de maneira decidida contra a arte degenerada. Quem tenta suprimir as formas de pensamento e expressão que não se conformam com sua visão de mundo não são liberais. São FASCISTAS!
Sejam de direita ou de esquerda, suprimir o direito de expressão, em todas e em qualquer de suas formas é violência. Como liberal convicto, como defensor das ideias e da liberdade, só posso condenar a atitude de qualquer sujeito que se arrogue o direito de suprimir uma forma de arte, concorde ou não com ela.

Lamento que o Santander tenha se curvado às forças do obscurantismo! Lamento mais ainda viver nestes dias tristes em que a liberdade é usada como escudo para a violência e a intolerância!